segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A Era dos valores

A relação dos funcionários com as empresas mudou. Não importa mais o que ou quanto você produz, mas quem você é e como trabalha. Nesse novo contrato, o RH precisa se reorganizar e mudar as regras do jogo corporativo
por Tatiana Sendin
Há três anos, os funcionários da fabricante de cosméticos Natura davam claros sinais de que as coisas por lá não iam bem. A companhia estava crescendo e todos estavam sobrecarregados, trabalhando num nível que ultrapassava o suportável. Os processos decisórios, eles diziam, eram confusos e exigiam retrabalho. Apesar dos ótimos e reconhecidos benefícios oferecidos, ninguém tinha tempo de desfrutar nada. Em 2008, o cansaço da equipe se refletiu nos números: a Natura teve seu pior resultado desde que abriu o capital, em 2004. A taxa de crescimento caiu de 27% para 11%; o lucro e a capacidade de geração de caixa também enfraqueceram. No meio da crise, Alessandro Carlucci, presidente da Natura, percebeu que a corporação precisava se transformar. Ele trocou a equipe e contratou novos líderes. Entre eles, Marcelo Cardoso, vice-presidente de desenvolvimento organizacional e sustentabilidade, que seria o facilitador do projeto, na busca por recuperar alguns fundamentos do negócio e preparar a empresa para essa transformação.
O efeito Natura foi acompanhado por outras organizações que perceberam a necessidade de mudanças diante das novas exigências do mercado. No passado, durante boa parte do século 20, as companhias eram geridas com base no controle e no comando. A gestão de pessoas era voltada às tarefas e a avaliação de desempenho analisava quanto o empregado entregava. Os funcionários, por sua vez, acreditavam que, se fossem fiéis à empresa, teriam salário garantido e estabilidade no emprego. Numa relação assim, os valores do empregado ou do empregador pouco importavam. Nos últimos 20 anos, no entanto, com a globalização, fusões e aquisições, o empregado passou a querer mais do empregador, além do salário e da estabilidade. “Hoje, o funcionário olha o desenvolvimento pessoal, o desenvolvimento de carreira, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, o ambiente de trabalho e, por último, o salário”, diz Américo Garbuio Jr., diretor de RH da fabricante de bebidas Schincariol. A lógica não é mais a do emprego perpétuo, mas de ciclos de desenvolvimento que perduram enquanto a pessoa se sente engajada. E esse engajamento acontece numa outra ordem — a dos valores.
Valor, explica Jean Bartoli, consultor e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da Fundação Instituto de Administração (FIA), não é o quadro que se põe na parede, mas o que realmente vale. “As pessoas se sacrificam por algo em que elas acreditam”, diz. Os valores definem as escolhas dos indivíduos e se traduzem no dia a dia pelo comportamento. Quando uma pessoa trabalha numa corporação com os mesmos valores que os dela, as decisões fluem e as tarefas saem mais facilmente. O resultado é que ela produz mais e melhor. Segundo um estudo da consultoria Right Management, um profissional engajado é 50% mais produtivo que outro não engajado.

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